Abrir mão também é amor!

É comum ouvir que amor é aquilo que faz dois serem um. Perdi a conta de quantas vezes vi casais brigarem ou se separarem por conta dessa lógica – tão ilógica para mim.Um só sai se o outro sair, um só come o que o outro comer, só assiste o que o outro deseja assistir, e assim eles entram numa fusão que faz do amor a dois tudo, menos amor a dois efetivamente.

Quando se permite que o namorado vá ao futebol, ou que a namorada caia na night com as amigas geralmente tem-se uma certa “desaprovação social”. Ouve-se muito um ” mas você deeeixa?”, ou ” você faz isso porque não ama de verdade”. Contraditoriamente a esse último argumento, acho que quem ama de verdade faz isso sim.

Para o amor viver é preciso de ar, de janelas abertas, de oxigênio. E, na minha opinião, só a liberdade é capaz de oferecer isso. Como já bem diz meu pai, liberdade e libertinagem são coisas completamente diferentes, e talvez confundir esses termos seja a grande emboscada que arruína os relacionamentos. É preciso ter uma base sólida para se confiar no outro e aproveitar a liberdade sem medos. Afinal, um namoro que diz-se “livre” mas que é permeado por insegurança, receios e afins não é livre coisa nenhuma.

Sabe essa ideia antiiiga de que para manter a vaca no pasto é preciso cercá-lo bem?

Em relacionamento isso não está com nada. É preciso oferecer uma boa grama, um ambiente agradável e seguro para que a vaca – sem trocadilhos, pessoal!- fique bem onde está. Não consigo acreditar que exista alguém que goste de se sentir preso ao outro; ninguém gosta de coleiras, correntes, nem nada que limite o básico direito do ir e vir.

Luís de Camões, conhecidamente cantado pelo Legião Urbana, já dizia que o amor é “querer estar preso por vontade”, e é bem por aí mesmo. O amor é um sentimento livre em essência, e tudo que vá de encontro a isso é negativo. E essa liberdade do sentimento é algo tão substancial que até a própria escolha do amado não funciona com direcionamentos matemáticos ou com ordens de para onde deve seguir. O amor é tão  livre, que por vezes nem mesmo lhe é permitido escolher alguém, já que ele passa a frente de qualquer racionalidade e acerta em cheio o parceiro mais aleatório e improvável do mundo.

Deixar o amor ser livre é, no mínimo, uma prática coerente. Se a liberdade o caracteriza a esse ponto, vá com a maré. Vá ao cinema sozinha, deixe o seu namorado jogar o videogame dele em paz…Respeite o espaço livre de ambos. Por uma questão humana, é natural que haja gostos distintos mesmo, e respeitar essa diferença não é falta de amor, mas, no meu ponto de vista, trata-se de um respeito a liberdade de cada um, um amor transcendente ao egoísmo.

Abrir mão da companhia de quem se ama é um voto de confiança, é uma prova de amor, e não uma falta dele. Se você ama profundamente, ame a ideia de permitir que seu namorado viva experiências sem você, e se ame a ponto de permitir viver experiências sem ele. Não estou entrando na questão de experiência como sinônimo de pegação não, estou falando de práticas cotidianas mesmo. Você gosta de comida japonesa e ele odeia, não deixe de ir…Vá com suas amigas sem o peso de se achar em falta com o boy. Ele não é obrigado a gostar, e em situações como essa o consenso nem sempre é a melhor saída.

Desejo a todos os casais apaixonados que se presenteiem com mais corações alados...

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