O Príncipe que não sonhei.

Que engraçado, nunca sonhei com príncipe encantado, ou vislumbrei alguém com características próximas ao que sempre assisti nos filmes de princesa. Nunca quis alguém pra me "salvar" da torre, nem mesmo para me colocar num castelo, ou num lugar melhor do que eu estava. Talvez pelo privilégio de ter tido uma família "real", morando comigo, e pude viver o dia a dia de que não é o casou e viveram felizes para sempre
A felicidade, o companheirismo, o amor, o respeito, a compreensão era e é construída todo dia, através do olhar, e quando mais corajoso, o diálogo mais profundo. Tenho pai e mãe (no conceito mais profundo da palavra, que não tem haver com a questão biológica) que se amam muito, e era demonstrado cada dia, pela admiração um com o outro, os cafés que meu pai sempre levou pra minha mãe na cama, minha mãe falando de quanto meu pai se transformou numa pessoa melhor, mesmo que não sendo ilesos de brigas e discussões, porque isso não existe. Mas mesmo com vários pensamentos diferentes de vida, me ensinaram e ensinam que amor são duas pessoas independentes que apenas escolheram construir uma vida a dois, apesar das diferenças. Ensinou eu e meus irmãos sobre a ESCOLHA, inclusive em diversos momentos da minha vida (um deles muito marcado, que um dia devo escrever aqui), mas sempre com muita cautela, sem se "intrometer" e serem donos de nossas vidas, como muitos "pais" infelizmente aprenderam a ser... Bom, mas não posso mudar nem meu passado, quem dirá o dos outros, enfim... O que tenho aqui é a minha história, e a história com, pra mim, os melhores pais do mundo, e nessa primeira parte de meu texto, só tenho GRATIDÃO para com eles, e como sou afortunada de tê-los em minha vida, como grandes exemplos desse amor saudável!

Mas voltando para o que vim escrever hoje, era sobre eu ter achado engraçado o fato de nunca ter sonhado com príncipe encantado (e depois quis esboçar uma linha do porquê), e nunca esteve em meus objetivos encontrar uma pessoa x, y ou z, para aí sim eu ser feliz e me sentir completa (exceto o fato de querer me tornar mãe, o que nunca significou precisar casar). 

E como a vida é doida, hoje, olhando nos olhos dele, da pessoa que hoje escolhi construir uma vida juntos, me senti quase num conto de fadas. Não um conto de negação aos desafios da vida a dois, ou isento de querer mudar, mas um conto daquele que sempre admirei em meus pais. Pensei "que sorte a minha, se eu tivesse feito uma lista de um príncipe teria sido exatamente assim, como essa pessoa que está aqui em minha frente..." 

Me senti meio boba, tipo tonta mesmo. Depois fiquei com vontade de escrever, desisti, mas voltei e pensei, porquê não?! É tão bom admirar alguém e poder expressar essa gratidão em forma de palavras escritas também... E não quero me esquecer disso daqui há alguns anos...

Nossos diálogos, todo dia, imbuído de reflexões, de transformação, e de maturidade. Da consciência dos erros, dos acertos, e do que se pode construir a partir de cada ponto de nossas vidas. Ambos aprendemos todos os dias um com o outro, e às vezes parece até um exagero, sabe? Por vezes talvez não acreditamos tanto em algo tão lindo, e ficamos em busca de que "deve ter algo errado"... Nossas auto-sabotagens da vida. Mas decidi que não, que não preciso disso. Não precisamos disso!

Sinto uma alegria real e tem dias que avassaladora, de me sentir completa comigo mesma, e mais feliz ainda de poder de compartilhar com alguém que admiro tanto, que aprendo todo dia, e se permite também aprender comigo. Alguém que se permite se abrir, ser frágil, aprender, e que tenho total liberdade e condição do mesmo com ele. Ele consegue me fazer rir todos os dias, mesmo que hoje passando por momentos tão difíceis da sociedade e as questões da vida que não podemos controlar. Ele me traz leveza. Faz quase dois anos que estamos nos conhecendo mais afundo (e agora 24H juntos, debaixo do mesmo teto), e ele continua me trazendo LEVEZA.

Todo seu cuidado, carinho, paciência, a preocupação com o outro me instigam a ser uma pessoa melhor. Já fiquei também brava dele pensar demais nas outras pessoas, que não estão nem aí pra ajudar, mas também entendi que cada um tem um jeito, e seu processo de ser amigo (talvez eu precise esperar menos também dos amigos, de vez em quando).

Enfim, eu poderia ficar horas aqui escrevendo sobre esse príncipe que eu não sonhei, mas se eu tivesse sonhado seria exatamente assim... Que possamos continuar construindo juntos, enquanto nos permitirmos viver esse AMOR. Um amor saudável e leve, que é como deve ser!

(São pensamentos soltos, traduzidos em palavras. Ao amor da minha vida. 26 de maio de 2020.)

Lágrimas não foram suficientes, era preciso ter dito, e agora?

Toda vez fico pensando em escrever essa carta, talvez uma carta pra mim mesma, quando toda essa mágoa passar... Sim, eu sei que ainda é mágoa, posso fingir o que for, ainda me machuca, ainda quero saber, ainda penso no que fazer para amenizar o que não foi correto, e principalmente penso no que eu poderia fazer para que ninguém mais passasse pelo que passei...

Nunca fui, e não será agora, que farei pessoas como monstros, acredito mesmo que o ser humano como um todo tem suas qualidades e defeitos, com acertos, mas principalmente erros. O que nos cabe é saber lidar com os erros, tanto os nossos, quanto o dos outros, e aprender a hora certa de falar, e de não falar...

Mas fazendo uma análise sobre mim, eu deixei de falar tanta coisa nesse processo, que ficou tudo entalado, e que ainda me consome. Não, não me consome o tempo todo, aliás, são poucas vezes, mas quando ainda me lembro, da uma angústia, e ainda tento entender o que de mim não deixou fluir essa história. Sei que tem muito do que achei injusto, e odeio ver coisas INJUSTAS. As lágrimas fluíram... Lágrimas não foram suficientes, era preciso ter dito, e agora que não disse, como resolver aqui dentro?

(Foi tema de terapia do dia 07.12.2020. Ainda sobre o processo profissional que passei em meados de 2019)